sexta-feira, 25 de maio de 2012

QUEDA


Não deveria ser um dia de glória
com os céus pintados de um sangue azul
era venoso mas não envenenava
amontoava-se em formas de cura
se preparava para desabar
e ai...

Não deveria ser um dia de glória
mas as ranhuras de luz ainda vinham
se pendurando em serpentinas no ar
semeando sorrisos de descasos
que normalmente estariam reclusos
mas então...

Deveria mesmo ser um dia maldito
com fantoches de seres medonhos
de olhos
pele e textura humana
dos que falam
pensam e mentem como
e não foi tudo por que...

E foi mais que um dia qualquer
com surpresas ainda escondidas
enfeitado com fadas
novelos de lã e overdoses dionísicas
mantendo-se sóbrio apesar
festejando voraz o fim de mais um dia
e fim

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Redenção


Caia inanimada
laminas sorridentes
estraçalhe o tempo
estardalhe o tolo

Tinti-le ao solo
corte de dois gumes
vai partindo a terra
faz sangrar a carne

Vá brincar com o homem
de trapos de roupas
arranque lhe sorrisos
arranque lhe a vida

voe cintilante
laminas de sangue
carmesim de dores
volte pro seu mestre

chega e repousa
pedaços de aço
forjados de linhas
sedentas de lágrimas

Adormeça um dia
brinquedos crueis
e que não acorde

segunda-feira, 7 de maio de 2012

119


E dos segundos que se passaram
minuciosamente construiu o orgulho
paredes de uma fortaleza
que não era de pedra
que não era de aço

E foram muitos
incontaveis
mais de uma dezena de milhão
ao redor do homem que sem perceber se trancava
numa redoma
que não era de vidro
ainda assim era tão fragil

Quando se sentia sozinho
conversava com as paredes
e esperava a resposta
que logo
logo não vinha

Quando queria chorar
fechava seus olhos
ao invés disso sonhava
fantasias que nem outrora imaginaria

E cento e dezenove dias se foram
sem volta nem arrependimentos
no dia que se sucedeu
a tentação venceu o orgulho

E a fortaleza foi aberta
A esmo estava vulneravel
sem misericórdia alguma
o sol queimou , a noite assustou
e o homem feriu
de novo
de novo

E com sua moradia ao chão
e ao pó
restava ao homem
junto com seu orgulho
reerguer tudo novamente
para nunca mais cair

domingo, 29 de abril de 2012

Revolução


Mas eu continuei a caminhar, ainda que meus mecanismos implorassem por descanso. E eu vi, eu vi tantos por aí se refazendo por completo, mudando suas cores, suas dinâmicas, tomando formas surpresas. E eu admirava como aqueles encaixes imperfeitos fazia tanto sentido para as peças dessincronizadas , e parava para invejar em menos de um segundo aquele atrito tão desejado, aquelas faíscas que jamais entrariam em combustão por que eram fracas demais pra suportar qualquer coisa.
Mas eu continuei a seguir em frente, sem saber se o defeito era do mundo inteiro, ou apenas do meu par de olhos, que não era vítreo, mas já estava cinza pela falta de sonhos.
E fui também recolhendo engrenagens, quinquilharias e cabos de aço pelo caminho percorrido. Todo esse tempo, esperando a hora certa de me consertar ou criar uma máquina nova e perfeita para minha companhia

Guerra


Vá em frente homem
dispa pedaços desnecessários de armaduras
vá em frente criatura
todo esse peso pode acabar te retardando
e ai...
Então vá, não pare, não olhe para trás, atrás de brilhos de bronze não polido
atrás de pedaços de papel ateados em fogo perpétuo
de sussurros que dizem mais de uma coisa quando não dizem nada
Vá em frente homem
abrindo caminho por uma legião de espadas
que um dia de tanto te cortar, perderão a vida
enquanto você estará mais afiado do que nunca

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Monstro


Talvez você  nem exista
doentia e confusa a minha cabeça
me fez te criar
por que talvez você nem exista mesmo

talvez você seja um monstro
daqueles gentis de olhar
belo verdadeiro demonio
inescrupuloso anjo de fel

Talvez você seja feita de lama
destroçada no primeiro temporal
talvez não tenha gosto de nada
ou de coisas muito ruins

Ou não
seja feita de faces
de risos e  lágrimas
de afeto e escombros
de amor e amor escondido

Talvez eu transpasse sua carne
e sua alma encontre
talvez eu te faça chorar de alegria
e na tristeza
lhe arranque um sorisso

Talvez vez eu te queira ou não
ou eu te queira mais do que eu posso
talvez dançaremos na chuva
ou passaremos nossas vidas sozinhos

Talvez você seja nada
ilusão mais uma das milhares
então ou apenas uma
mais uma
talvez você seja um monstro
e é isso que me encanta em você

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Cheque!



Lamente Rainha de sucatas
pendida perpendicular
em trono de luxo
do lixo de tudo que já corrompeu

Vagueie por terras
brancas e sombrias
profunda em desgosto
acolá onde a luz não toca
de forma alguma

Mas que ajeite vossa realeza
em forma torta de coroa
seu ego condensado em cetro
No centro seus domínios
rios
risos
uma pitada de servos
é tudo cenário

E comande tropas de fachadas
fechadas em quatro vértices
com vórtices eminentes de uma batalha
entre o tu e tu mesmo

Devore o fútil e o opaco
são troféus quebrados
juntos jazem sem valor
expandido um reino de vácuo

Eram eles
cavalos mansos
torres sem alicerces
bispos hereges
que clamaram por um Deus
e fingiu não escutar

Lamente Rainha de sucatas
que não pode ultrajar seu rei
agora convexa em flechas
pronta para o arrebate final

Descanse em paz
dama traída
é tarde demais
Cheque
Mate!-a

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Retalhos


Havia um homem de pano
não era seda nem nada
suas riquezas eram intangíveis
e as vozes duvidavam
que mentira
que ultraje

Havia um homem de trapos
mas eram trapos limpos
memória ali não havia
não tinha amor
detinha círculos vazios
que jorravam lagrimas de cristais

Mas ele caminhava incessante
sem rumo ainda que
seus pés não doíam
nem pés ele tinha

E foi que houve
nem no meio dia
nem no calar da noite
mas entre os dois
na estação das flores
ele desfaleceu

De índole duvidosa
uma alma o recolheu
com suaves mãos
e olhar de ternura
era bom
era magico
era vivo

E alguns espaços avançaram
juntos
tão distantes
e quando os olhos de botões se afastavam
sua salvadora não ria
sua face se dissolvia em sal

E num desfecho incomum
de mais uma hora comum
o pobre monte de tecidos lançou
ao chão
compadecido de clemência
o abraçou
junto com as mil pétalas que encerravam a estação
e ficou ali repousado
as cores murchando
junto com seu coração em retalhos

O inverso


E de repente, as pessoas perderam o medo
Mas perderam, veja você, o medo das coisas erradas
Não se tem mais medo de mentir desenfreadamente
e dai que ela tem pernas curtas ? Nada que um salto não resolva não é mesmo ?
Não se tem mais medo de lançar palavras duras
como se nosso corpo fosse feito de um metal perfeito
Não se tem mais medo de usar as pessoas
mas espere, você deveria usar roupas e coisas
Não se tem mais medo de dizer falsos ''eu te amo''
por que agora ser educado é enganar
Mas enquanto vocês perdem esses medos, debaixo da sua cama vai crescendo bichos papões, bruxas e fantasmas, e uma hora ou outra eles estarão prontos para te devorar
ai já será tarde demais, você vai estar sozinho, sem nenhum medo ou compaixão por perto.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Camadas

A noite degradê não cai
ela vem aos pouquinhos
em passos tímidos de crianças bobas
capturando sorrisos singelos

A noite degradê não degrada
mas vai edificando castelos
com a vida em contraste
e um ou dois vaga-lumes pra enfeitar

Ah
noite degradê de tons cinzas
ela nos guarda surpresas
de pontas de facas sorridentes
ou confianças abissais de uma dimensão

Ah
noite de muitas cores
que vai perdendo seu fundo negro
e ganhando abraços maternais
mas lá vai
em tons carmesins de aurora
um fundo d'água em poços rasos
encobertos por chuvas de cascalho
mas lá vai
e que consigo traga um lindo dia

Aceitação

Deveria doer, cegar, tornar incapaz
mas ao invés disso, esse veneno está curando feridas que ele próprio causou
Talvez, sejam as doses cavalares do impuro correndo nas minhas veias
e acabou se tornando parte de mim, me fazendo mais forte, criando armaduras que antes, nunca imaginaria trajar !

domingo, 15 de abril de 2012

Descrença

Ao sol de pedra que não brilha
Assentados em tronos de nós
da vergonha alheia e a minha
nem incomodo
 nem nada seus nódulos

As nuvens ocas e vazias
apodreceram pelo tempo 
Não o divino
mas o mortal
Negras agora preparam pra desabar 

E o brilho dos homens ?
agora nada refletem
talvez dor
mas ainda vagamos 
e vagamos

Se o nosso coração bate
por que morremos
Se o nossos olhos vêem
por que se perdem 
Se o nosso corpo se move
por que não dança 

Nossos pedaços dilacerados e espalhados
mundo afora jazem psicopaticamente alegres
Onde está a nossa esperança agora ?

Se no fim haverá uma luz
devermos prossegir 
ou descansar no meio do caminho 
tomado pelo veneno da descrença

Não cabe aos demônios nos ceifar
nem aos iguais aos Deuses tampouco
Ao e se por fim vencermos
Decidiremos a hora de largar o mundo

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Trunfo


Certo
certo
estamos dançando no escuro
com passos largos e arritimicos
compassado num vai e vem cego
se movendo tão graciosamente
que nenhuma melodia pode nos acompanhar


certo ou errado
estamos vivendo dia após dia
estamos sonhando com tristezas 
mas também com alegrias
e enquanto eu anseio o meu futuro junto do seu
você apenas anseia


errado
tudo está tão errado
eu deveria poder mas não digo
você deveria dizer mas não pode
colidimos numa colisão pessoal
chocamos com choques habituais
nada é novo
nada é tão velho
escondemos o segredo que todo o mundo viu


e se berrarmos errantes errados
os rostos maliosos não incomodará
são quem mesmo
são ás de espadas
indolores seus cortes indiferentes
enfeitam a pele com o carmim do sangue
brilhante
apenas isso


e daí o sangue seu é meu 
sangue meu é seu
somos um
ou dois
ou muitos
quem dirá ? desculpe o tempo mas nem ele
lascas de palavras não incomodam mais
risos perfurantes perfuram o ar e se 
pois a comunhão do meu amor 
vagueia e repousa 
volta sem ir
existe mas se esconde
dentro de nós
de ti 
de mim 


Mas amanhã quem sabe
certo 
errado ou certo
dançaremos a luz do dia
numa multidão de ouro
gravetos e corações
ao som de mil canções de silêncio
que nada precisarão dizer
se não o nosso amor

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Dança do Caos


No escuro vivia
e lhe fazia bem
ausência de luz

completa harmonia
não via ninguem

passava os dias sozinho a brincar
os dias eram noites
suas noites o luar

no seu mundo um buraco negro
como bolas de sabao
e um arco iris de uma só cor
preto claro de chamar atenção

dançou

que gostosa sensação
de sua livre expressão

dançou com mil espadas cegas
nao as via
fazia do perigo
sua forma de alegria

dançou com borboletas negras
de asas assustadoras
eram lindas eram feias
ao mesmo tempo sedutoras

dançou com meio mundo
dançou com o mundo inteiro
seus pés se moviam ligeiros

a noite chegou
nao fazia diferença
o ceu era também negro
notável sua presença

voltou para o seu mundo
em cinza arco
iris que era negra
retornaria outro dia
descobriu amor

terça-feira, 10 de abril de 2012

Prisma


Eu sou um prisma, eu sou um prisma, eu sou um mapa
Eu tenho muitos lados,muitos aspectos, inúmeras direções
E sou as vogais, sou o alfabeto, sou um código
Sou um peão, sou um rei, sou a rainha
Eu sou eu, eu sou outro, eu sou mais de um
E faço o bem, faço o mal , mas não rompo esses limites
Não sou herói por isso, eu sou humano e também não sou vilão                              
E ouço, ouço duas vezes mas sou ouvido pela metade
Eu sou mamífero, sou sangue frio, sou uma pedra ?
Não! Eu xingo, eu choro, na chuva ou sozinho
E eu esnobo, mas eu perdôo, eu também tenho sentimentos!
E eu amo com menos frequência do que amei ontem e se odeio é com mais frequencia do que odiarei amanhã
E acerto, e erro, e erro, e me omito e finjo de morto
Mas enquanto vivo, tento acertar de novo
E esqueço, ultrapasso, retorno. Não carros, nem pistas, mas as pessoas e suas vidas
Tudo isso por que eu sou um prisma, eu sou um prisma, eu sou  o mundo

sábado, 7 de abril de 2012

Paraíso

Ela gastou muito da vida
rodopiando em catavento de flores
mais ou menos todas tinham espinhos
veneno que a adormecia

E ela cobrou demais da brisa
enquanto balançava cima e abaixo
numa brincadeira inversa
de tráfego das idéias comuns

Mas ela não se importava
jogava amarelinha de dois pés
caminhava saltitando
com olhos fechados
e o coração aberto
ela criou seu paraíso

Em particular ela foi julgada
por juízes de manto negro
Mas em plateias
eles se vestiam de branco
com rostos amigáveis
sorriam e tudo

Então ela pagou o destino
com uns trocados
bolas de goma
e magoas guardadas
mas sorriu desde o começo
ela já tinha inventado seu paraíso

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Exceção

Eu poderia rodar o mundo inteiro
e descobrir mais mil amores
poderia brincar em um buraco negro colorido
encenar todos os meus sentimentos


eu poderia arder como todos os sóis
poderia cortar cada pedaço de vento
ou até mesmo rasgar a profundidade da noite
mas isso só valeria por você


eu preciso dizer porque :
você é a exceção


Eu tentaria voar e sentiria dor em todos os meus tombos
mas por você 
toda a dor não seria suficiente


e traria a minha alma para fora 
pois eu preciso saber
se você ainda me ama


Porque você é a MINHA exceção
Porque você é a minha verdadeira conexão


E ficaria aqui te esperando
por duas ou mais eternidades
mergulhado nas lembranças
que agora estão amareladas


No fim eu sabia que você ia partir
para onde não conseguiria seguir
e resolvi me distrair com as trilhas
para não precisar chorar


terminarei sozinho
eu posso estar errado
mas será melhor assim


Mas tudo isso
eu só farei por você 
Porque você é a minha única exceção

Vime


Boneco de vime
sem eira nem beira
não chora
não quebra
muito mal se levanta

Boneco de lama
com circulos vazios
e ciclos de moldes
das mãos que possuem

Boneco de corda
de cima
e baixo
esquerda e direita
fios envoltos
casulo de ordens

Boneco de barbante
com sorriso de lã
faz
se desfaz
da gravidade desdenha

Boneco de vime
ao poder de estranhos
sem dedos
articulações
sem um coração para bombear

Boneco de vime
feito de nós
após dia após
pra apagar todas as emoções

Boneco de células
deveria respirar
mas tomaram o seu ar
e até hoje não devolveram

Boneco caido
ruido em desfeitas
desfeito em linhas
sentado no canto

Boneco de vime
já jaz esquecido
já excita
já exulta
hesita
para a próxima hora de brincar !

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Oeste

Caminho de pedras
lascadas cortantes
lhe arrancam o sangue
a fé de uma aura apagada

Espaço de curvas 
com crânios avessos
perdidos na linha
sem pontos marcados

E segue tão cego
sem tato nem nada
foi uma emboscada
de uma escada espiral

Siga pobre alma
pro brilho adiante
com passos constantes
do incerto e confuso

Caminho de lama
refeita em armas
lhe suja o orgulho
e um rosto em lágrimas

Mas vá pobre alma
refaça o caminho
e que siga sozinho
para vencer afinal

Metafísica


Vem, arrebata-me
em vias do irreal
arrebentando esconderijos seguros
alternando o consciente e o não

Vem, despedace-me
em grãos de poeira
despindo arestas da minha alma
apresentando-se no metáfisico e nada

Vem, dance comigo
sinfonias de vida ou morte
manipulando notas e acordes
que decidirão quem sucumbir e respirar

Não, não venha mais
quando estou intocado em conchas
blindado em vidros
assim, criança travessa
tudo despedaça e corre

Vem, mas vem mesmo
sem falsas armadilhas
ou pretensões teatrais
sem comédia ou tragédia
venha nu, sem pedaços de mascara

Vem,mas que não vá
me mantendo uniforne
recompondo cacos de mim
Quebrados por suas mãos
sem dó

E no fim
que venha,mas não me possua
quando estou imune ao seu veneno
que venha, e repouse a minha presença
quando repirar-te é tudo o que preciso
que venha...
que venha!

Infinito


Na verdade o que me impressiona é a imensidão
se eu poderia gastar longos periodos fitando o mar
poderia também passar uma eternidade encarando o céu
sua grandiosidade azul enegrecida
e sua variedade de cores estrelares penduradas por fios invisiveis de gravidade
a sua calma, o sua resposta em silêncio dos nossos desejos
sua extensão infinita, ora plana, ora em abóbada
em circunstâncias dos olhos de quem vê e como vê
Na verdade o que me impressiona é contemplar o céu e o mar
um ciano escuro celeste e um negro verde marinho se chocando
antecedendo o baile que proclama o sol
se encontrando numa profunda infusão de mistérios
esses, que sinto fazerem parte de mim

Multidões


São muitas formas
tantas disformes
sem curva alguma
e outras bem contornadas

São muitas almas
tantas desalmadas
cheias do mal
e outras por vontade desarmadas

São muitas vidas
tantas desperdiçadas
cheias do vazio
e outras cheia de idas a cumprir

São muitas peles
tantas descamadas
sem derme nem nada
e outras feitas de diamante

São muitas pessoas
tantas homogenêas
sem face ou sorriso
e uma na órbita central

São muitos objetos cortantes
tantos cegos
sem corte profundo
e outros de talhar os ossos

São muitas paixões
tantas inuteís
sem planos futuros
e um amor real pra vida toda